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domingo, 10 de abril de 2011

Abuso sexual

Se você já sofreu abuso sexual? Pode acontecer em qualquer família.

A violência contra a criança e contra a mulher é um crime silencioso, que sufoca a vítima por anos e muitos casos nem vem a tona. A socieade precisa proteger de forma efetiva as mulheres e crianças que são vítimas de violência e abusos.
O abuso sexual é uma realidade cruel, infame e que é mais comum do que muitos imaginam, porém, não é tão discutido e combatido como deveria.

Juliana* tinha 7 anos quando descobriu a sexualidade – pelo menos, na prática. Estava com o primo de 17, na casa da avó, quando ele começou a tocar regiões do seu corpo em que só sua mãe encostava, durante o banho. A menina não sabia que aquele tipo de carinho, nessas circunstâncias, não era natural entre adultos e crianças, embora aconteça em muitas outras famílias.
A menina passou oito anos se submetendo aos desejos eróticos do rapaz. Ele, então, pedia a ela que não contasse a ninguém o que faziam, senão os pais dela sentiriam vergonha. De fato, nenhum familiar, mesmo morando todos no mesmo sítio, parecia desconfiar. Nem quando ela completou 14 anos e seu primo a iniciou no sexo com penetração.
Mas por que, afinal, uma menina não diz “não” ao passar por isso? “É difícil dizer ‘chega’, pois a nossa sociedade é caracterizada pela submissão da criança ao adulto”, explica a psicóloga Karen Michel Esber, que escreveu o livro Autores de Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Juliana, hoje com 33 anos, confirma o que diz a especialista. “Ele se fazia de ‘o primo mais legal’ e criei certa dependência da relação.
Por isso, me sentia culpada. Como podia gostar do cara que fazia aquilo comigo?”, questionava ela. Embora nunca tenha sido pega à força, Juliana arriscava dizer “não quero”. Mas o garoto respondia que ia ser rápido e partia pra cima. “A mulher tem tendência a resistir, resistir até que cede. Quando a relação é saudável, o homem a corteja até ela se entregar por amor. No caso de abuso, ela entrega os pontos”, resume o psicanalista Oscar Cesarotto, da PUC-SP. Ele conta que suas pacientes que sofreram abuso sexual** só depois foram descobrir que as questões que as levaram a procurar seu consultório – dificuldade de se relacionar com filhos ou marido, ou travas sexuais – estavam associadas aos traumas da infância.
Logo, o que aconteceu com Juliana é mais comum do que se imagina, inclusive a parte do primo e a da culpa. Segundo o Ministério da Saúde, 86% dos abusadores conhecidos são da família ou muito próximos. Já as vítimas, 78% das vezes são mulheres, segundo o Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. “Tem a fase do conflito, quando a criança já entende que aquilo não é certo, mas ainda não está madura para dizer que não quer”, reflete o obstetra Osmar Colás, coordenador do Programa de Atendimento à Violência Sexual da Unifesp.
Foi o que viveu Raquel*, hoje com 36 anos, que teve a primeira experiência sexual com um primo dez anos mais velho. Ele foi dormir em sua casa e, na madrugada, entrou no quarto da garota, então com 4 anos. “Não entendi quando começou a fazer aquelas coisas com as mãos e a boca”, lembra ela, que é médica e atende a casos como o seu em um hospital público do interior de São Paulo. Raquel ficou passiva e paralisada pelo medo. “E por certa curiosidade”, confessa. A filha contou aos pais, que expulsaram o menino. Porém, orientaram a garota a não falar sobre o ocorrido. “O pacto de silêncio pode gerar dificuldades para a criança no futuro”, alerta a psicóloga Desirèe Monteiro.
Um dia,Juliana, abusada pelo primo dos 7 aos 14 anos, deu um basta. Mas só revelou à família o que acontecia aos 26 anos, quando sucumbiu à terapia, embora desde os 15 já revelasse comportamentos recorrentes às vítimas de abuso: bebia demais e tentou se matar ingerindo remédios. “Elas ficam num estado de entorpecimento emocional”, revela o psicólogo Júlio Peres, especializado em trauma.

 
“Mesmo que a pessoa não se lembre, para o cérebro é como se aquilo tivesse sido na semana passada” Júlio Peres, psicólogo.
 
Só a transparência salva
 
Hoje, Juliana já não precisa de antidepressivo, mas continua com o ansiolítico. Ela atribui à experiência do passado o fato de ter sido “travada” sexualmente na adolescência. Agora, depois do tratamento psicológico e psiquiátrico, se considera “mais liberada na cama do que algumas amigas”. O atual namorado é pai de seu terceiro filho, de 5 meses – as outras filhas têm 16 e 9 anos.
Já Raquel desenvolveu um comportamento sexual aparentemente liberal, mas sem criar intimidade com os homens com quem saía. Só ano passado, depois da terapia, ela assumiu um relacionamento sério. Além disso, acredita que a experiência tenha a ver com sua compulsão para bebida e seu “pavio curto”, consequências comuns nesses casos – assim como vício em drogas.
O psicólogo Júlio Peres enfatiza que, para se livrar do trauma, o primeiro passo é esclarecer. Estudos por ele publicados mostram o que acontece no cérebro de pessoas que tinham um trauma e se submeteram à terapia. “Antes, a área relacionada à expressão do medo aparecia superativada. “Quem passa por uma experiência dessas tende a ter mais profundidade nas relações, porque fica mais criterioso. Ao se tratar, pode criar vínculos mais genuínos”, aposta.

As leis que combatem esse tipo de crime deveriam ser indiscutivelmente mais severas, as mais severas possíveis!

Os abusadores de todos os tipos precisam ser denunciados, perseguidos, combatidos por toda a sociedade, pois, assim como "ratos" de esgotos, se escondem.Usam o silêncio das vítimas para continuarem seus crimes. Uma coisa precisa ficar esclarecida: a sociedade precisa ter tolerância zero contra esses "vermes"! 
Em caso de violência contra crianças disque 100!
 
*Juliana e,Raquel são nomes fictícios, usados para proteger suas reais identidades
**Nesta postagem a expressão “abuso sexual” refere-se a todos os crimes contra a dignidade sexual

 
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA aprovado pela Lei 8.069/1990, de 13 de julho de 1990
Disque 100 e denuncie!

2 comentários:

  1. Absurdo total, mas infelismente acontece!
    Agora que eu estou trabalhando com crianças carentes vejo a realidade nua e crua de abusos que começam muito cedo.
    Parabens Demostenes pelos posts, é muito importante debatermos sobre esse assunto sempre.

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  2. Infelizmente acontece com mais frequencia do que se pensa e não apenas em ambientes carentes como muitas vezes se imagina,não só na periferia,não só nas ruas,não só no subúrbio,mas muitas vezes em famílias aparentemente bem estruturada.
    Por trás dos murinhos cor-de-rosa,de casinhas com jardins floridos,tb existem crianças que foram "roubadas" abruptamente de sua infância,de seus sonhos,da sua inocência...envoltas no grande abismo do medo e da hipocrisia.
    Infelizmente para muitos pais,sexo ainda é tabu,não deve se conversado...e a pooeira vai sendo depositada embaixo do tapete...
    Onde não a diálogo,não há espaços para mudanças...

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